Meu Silêncio É Um Discurso

Grandes e sombrios dias estes. Em que o tempo me cansava até que ele mesmo acabasse se cansando. Aí era aquilo: andar sem passos firmes por um aí.

Acendo cigarros com insistência. Fico imaginando se a fumaça pudesse levar alguma mensagem para bem longe. Terras que nem imagino devem existir.

Tento calcular a distância que não consigo. E o tamanho de tudo acaba ficando do mesmo tamanho que meu coração. Cada detalhe é guardado com um carinho que me chega à doer.

Meus bolsos estariam furados? Sei que faço perguntas demais. É assim que está no meu roteiro de fiéis ilusões. Minha roupa estaria rasgada? Assim também se rasga a alma em amores feridos.

O relógio está cansado, deve ter bebido demais. Mas os sós devem ficar agradecidos porque ele nunca nos abandona. Mortos ou vivos todos possuem o tempo. É um grande engano achar que o repouso se torna absoluto.

Centenas de rostos vem na minha mente. Milhares talvez com alguma certeza. Fragmentos que nem as areias de várias praias. Eu aponto o dedo e a cena fica congelada. Sou o próprio mestre dos meus enganos. Eu sou a memória de todas as coisas. O pintor que vai fazendo todos os esboços.

Eu sou o caçador de matas escuras. Eu sou o colocador de sons em cada canção. Por mais estranha que ela possa parecer. Por mais que eu não entenda seu idioma.

A manhã já está se desfigurando. A tarde ocupa seu lugar na fila. Inflexível é a palavra de ordem. Permanente é o que nos falta e isso acaba sendo a mesma. Com chuva ou com sol os bem-te-vis ainda cantam e isso pode ser bom ou não.

A noite assim chegará. Com seus requintes ou sua rudeza. Não podemos escolher tal coisa. Aguardar acaba sendo a nossa arte. Tenhamos mais um pouco de calma.

Eu até gostaria de não falar nada. Os meus olhos já muito falam! Mas os meus versos acabam me obrigando...

Carlinhos De Almeida
Enviado por Carlinhos De Almeida em 23/07/2018
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