Amanhã

Fico à mercê, olhando de longe meus sonhos podres se decompondo. Afastei as moscas. Despi meu coração dos medos, levei uma porrada do destino. Quantos erros contém um acerto? Quantas mentiras contém uma verdade? Estou me desfazendo de mim, trocando de pele como a serpente. Estou renovando minha essência e minha existência. Amanhã eu serei eu de verdade, porque o ontem já passou e o hoje não existe. Amanhã, um eterno devir...

Eu te desconheci. Entre lutar e fugir, eu resolvi voar! Enfim, uma serpente alada, quase bestial, quase angelical. Estou confuso, e isso é cruel. É demoníaco não entender como alguém recai num erro do qual não se orgulha. Tem cheiro de carne fraca, de luxúria. E agora eu quero experimentar novos sabores e novas cores, numa sinergia. Quero um triângulo, no mínimo!

Eu sei meu nome? Perguntas retóricas... Você sente falta da tua liberdade, da tua diversão. E eu tive a chance de ser igual, mas não fui. Arrependimentos amargos. Você de ter cedido, e eu de ter resistido. Soubesse que aberrações climáticas findaria o mundo, eu viveria como um dinossauro.

Preciso de confeitos de chocolate para simular remédios, um suicídio lento e indolor. Quero morrer de mentirinha para tentar renascer de verdade. Há uma criança endiabrada em mim. Simulo também um revólver com os dedos e miro bem na cabeça, fecho os olhos e fotografo em preto e branco, assim sem vida.

Receio as estrelas que me fitam como se eu brilhasse em um céu inverso. Há alguém que me persegue, um eu. Tento me desconectar e acabo fazendo loucuras, cedendo às vontades da carne. Meu espírito está encharcado, e meus olhos marejados na companhia de um sorriso brando. Porque amanhã serei amor.