APENAS SONHAVA
APENAS SONHAVA
Apenas sonhava:
coisas habituais de minha vida
atual. Coisas de ontem, de hoje, talvez
de amanha... Coisas em que
me entretinha em querer saber
o fim; mas era interrompido pelo inicio
de outro sonho, as vezes nitido,
as vezes confuso; e quando escolhia
algum e atentava no seu desenrolar,
eis que o primeiro sonho voltava,
impondo sua forte presença, querendo
que eu o preferisse, como se o fato
fosse mais relevante para a minha vida...
Nao tinha certeza disso; cada sonho
tem a sua utilidade, o seu valor onirico,
e ate mesmo os que sao inuteis,
os que nao nos acrescem em motivos
significativos, pelo menos nos divertem,
como se fossem trechos de filmes
de minha realidade vivida, ou que ainda
a viverei. Quando criança, nao conto
as vezes que sonhava voando,
sem ainda compreender que era a minha
alma que voava, revestida pelo corpo
celeste. Tinha mesmo grandes sobressaltos,
quando me via caindo no voo, numa
queda livre que, antes de chegar no fundo
do suposto abismo, acordava assustado,
temeroso, ainda sentindo a sensaçao
angustiante daquele voo, de inicio, sereno,
instantes apos, repleto de afliçao.
Quando o contava para a minha mae,
querendo que ela me desse alguma
explicaçao razoavel, ela me dizia que,
por eu ainda ser criança, sonharia muitas
vezes assim, porque estava crescendo,
por assim dizer, no momento do sono,
Deus me fazia crescer o corpo ainda pueril.
Como deveras eu crescia pouco a pouco,
durante a minha ingenuidade infantil,
acreditava mesmo que sonhar voando,
era Deus alongando o meu corpo,
me fazendo crescer. Hoje, quando sonho
voando, sabendo que o corpo adulto
nao cresce mais, bem sei que,
pela compreensao espirita, enquanto
o corpo fisico dorme, refazendo as forças
no sono reparador, a alma desdobrada,
faz o seu passeio astral habitual, num ensaio
de "morte" que, em verdade, ela exerce
a libertaçao da propria vida, a vida espiritual
que Deus lhe destina para ser eterna.
Escritor Adilson Fontoura