Vozes do vento ***
Foi assim, quase assim e será ...?
Ela falava com o vento. Houve época em que o recriminava, isto quando o insolente despenteava seus cabelos arrumados de maneira especial. Ele chegava e num sopro só, fazia redemoinhos nas madeixas finas que se lançavam numa dança frenética. Ah...como era ousado e quantos impropérios deve ter ouvido! Com o tempo foi se acostumando a essa intromissão e até achou-se linda com os penteados que ele fazia nos seus cachos. Passou a observá-lo noite e dia, em cantigas ou gemidos que trazia de longe e jurava que ele sabia contar as suas histórias e fatos lá do vazio por onde havia passado. Acostumou-se a decifrar sua voz, dia e noite a observá-lo e até a esperar sua vinda já considerada amiga. Como brisa chegava, as vezes, trazendo perfumes, cantos suaves e em outras horas era apenas um intruso de voz desafinada, forte e sem noção de onde queria ir. Viajava com ele por sobre montanhas e descia aos vales, onde rasteiro ficava a atropelar as miúdas flores do campo.
Um dia, recebeu dele a mensagem: um perfume diferente, suave e marcante que parecia dizer - logo estarei com você, acolha-me, sou o amor verdadeiro. De onde viriam esse murmúrios? Assim, num ápice e surpresa a garota guardou este canto e odores num lugar do coração e ficou esperando. Foi de poucos amores, que sempre percebeu não serem tão seus como gostaria. Não soavam a verdade que sempre mereceu. As vozes de todos os ventos, apesar do tempo que se foi, ainda lhe são amigas, nelas confia, invadem seu espaço todo, varrendo dúvidas e trazendo anseios.
Ela continua o voo junto a ele - como borboleta - seguindo os rumos que indica e certamente pousará sem receio onde sua alma reconhecer que valerá a pena.
Pequeno trecho de capítulo a ser inserido no romance que rabisco, refaço e luto para o personagem não morrer.
18/07/18
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