Aquela Rua
Aquela rua que fica nos jardins,
velou os meus vinte anos.
Aquela mesma rua,
que de noite era triste e fria
e no verão, o vento a escurecia.
As corujas a escolheram para seus ninhos.
Aquela rua, onde o sol não reinava.
As rainhas nuvens ficavam a rodeá-la,
como corvos à carniça fresca.
Foi nesta rua,
de casas imensas sem vida com seus jardins cremados,
espalhando cinzas e morbidez pela cidade.
Foi sem dúvida nela que encontrei o amor.
Amor no casal de velhinhos da esquina.
Amor na criança a fazer bolinhas de sabão,
enchendo a rua de coloridas bolinhas.
Amor nas brincadeiras da infância.
Vi o jardineiro regar as plantas já mortas,
como se ressuscitasse meus sentimentos.
E cultivando-se fez brotar o amor.
Naquela mesma rua passei parte da minha vida,
Vendo os jardins cremados,
os palacetes assombrados.
Nuvens a sombrear minha rede,
onde dormi nos braços de meu amado.