Guardião
Por mais ofertas que você der a alguém, mesmo que seja a sua alma, nada será mais significativo do que a sua presença. Porque, quando entre pedras nasce uma flor, as condições de cada um nada serão perante o amor.
Eu, verdadeiramente, acredito no amor e na sua provocação de mudança. Eu sou fruto dum amor que durou anos e que, embora um dos actores não se encontre mais entre os vivos, este continua erguido. Tu és fruto de um amor que só tu sabes como. Minha poesia é fruto do meu amor à arte. Nós somos frutos de um amor que nunca vai dar certo. Somos frutos de um amor rocha e por isso somos frustrados, mas somos, sim, alguma coisa que um amor qualquer gerou.
Pela positiva ou não, nossas construções e desabamentos psicológicos são resultado dum amor. Um amor falhado, não um ódio que se acertou. Porque ninguém odeia por vontade, odeia por ter amado já uma vez. Eu, repito, acredito no amor, embora pareça que não. Só acho que nos falta mais capacidade de engrenar por esse mistério. Precisamos de reaprender todas as manhãs, todo os dias, com o mínimo dos detalhes, a vida, com este grande mestre.
Há um amor em algum lugar que nos resguarda quando corremos riscos de nós mesmos, um amor maior que nos aparece na dor e nos faz lembrar que valemos muito. Talvez seja este o amor próprio, talvez não, pode ser apenas a efectivação da noção das coisas. Quem sabe!
Para mim, o amor é das coisas mais estúpidas que existem. Ele faz-nos sentir falta de certas coisas, mesmo quando as detestamos. É cigarro que não se acende, é droga que não se injecta, ele simplesmente nasce em nós, para nos fazer morrer aos bocados.
Pois sim, o amor é doce e amargo.
Um amor salvou-me, outros enfureceram-me, mas há algures um amor glorioso que servirá para os não beneficiados. Não rejeite essa doença, porque ela é a cura para o mundo.
E por falar de amor, amar-te é o que faço quando ninguém está a ver.