CINQUENTA ANOS
Um dia temi os cinquenta anos.
Agora os tenho e, contente,
Constato correção no que dizia Cora Coralina:
"É a idade da desilusão" -
Não dar a tal palavra valor de flor emurchecida,
Mas de pétalas que caem, uma a uma; é um estágio,
Geralmente seguido de fruto ...
É bom desiludir-se, isso não abrange apenas coisas boas,
Abarca ranços, ranhuras, rebarbas...
O fim da vida retifica e dá o polimento,
Perde-se medos.
Perdi o medo do bicho papão,
De não ser macho o bastante,
Perdi o medo de errar,
De perder os dentes, de mostrar as garras,
De gritos de ordens, de ameaças de inferno, de abandonos.
Não creio que cada dia seja um a menos ou um a mais:
Alegro-me por mais um deles consciente de que não são meus.
Não temo mais o futuro porque ele, enfim, chegou.
Não lamento meus erros, era inexperiente.
Não me importa mais o que os outros acham.