CINQUENTA ANOS

Um dia temi os cinquenta anos.

Agora os tenho e, contente,

Constato correção no que dizia Cora Coralina:

"É a idade da desilusão" -

Não dar a tal palavra valor de flor emurchecida,

Mas de pétalas que caem, uma a uma; é um estágio,

Geralmente seguido de fruto ...

É bom desiludir-se, isso não abrange apenas coisas boas,

Abarca ranços, ranhuras, rebarbas...

O fim da vida retifica e dá o polimento,

Perde-se medos.

Perdi o medo do bicho papão,

De não ser macho o bastante,

Perdi o medo de errar,

De perder os dentes, de mostrar as garras,

De gritos de ordens, de ameaças de inferno, de abandonos.

Não creio que cada dia seja um a menos ou um a mais:

Alegro-me por mais um deles consciente de que não são meus.

Não temo mais o futuro porque ele, enfim, chegou.

Não lamento meus erros, era inexperiente.

Não me importa mais o que os outros acham.

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 26/06/2018
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