Punhal azul
Era uma manhã azul. Ainda tinha na memória os avisos prévios da nossa próxima despedida. Era um dia festivo. Sabia que você, em nome do nosso tão longo amor, mesmo com a possibilidade de mudanças de rumo, me daria um presente.
Confesso que estava ansiosa e aflita, torcendo para que tudo se passasse bem depressa, como quem precisa encarar uma cirurgia de urgência para aliviar a dor. O nó azul cobalto de gravata borboleta já estava atravessado na minha garganta. Mas eu, nadando em mares límpidos da inocência, produzia em águas marinhas a joia azul que me darias no final da estrada, onde começaríamos, lado a lado, uma outra viagem.
Então chegaste. Espanto! Era azul a arma branca que me trouxeste para selar a paz. Presente inesperado, ofertado em dia de celebração na bandeja preparada cuidadosamente pelo fiel adversário. Quem o entregou presumiu inutilmente que seria possível dissecar com ele a tatuagem do meu coração.
Azul punhal foi a tua oferta, apresentando-me em colorida foto o olhar azul anil da sua inesperada nova paixão, em cortante e preciso laser.
Punhal azul e mortal, em nome da morte do amor foste criado, mas para mim, que dos anjos sou, transmutou-se em bálsamo benigno que curou o glaucoma destes meus enevoados glaucos olhos. Olhos que agora brilham ainda mais na alegria de observar, ao longe e sem mancha, o voo estreante de outros pássaros.