“Abandonarei minha inocência, me vestirei da vida e dela retirarei o sumo, o prazer e toda histeria mundana!” 

Tão longe dos meus próprios sentidos, estou; que busco anelante todo e qualquer anseio que possam me conduzir por caminhos estritamente prazerosos. 

Há ainda, mesmo que salvaguardado em minha pele, um restinho de inocência, sendo ela o limite entre a minha loucura e a minha lucidez: um devaneio, uma lacuna histérica e sensível, capaz de sugar um mundo e vomitar apenas o que dele se fizer efeito. 

Não sei se saio correndo pelas ruas, despida da minha própria vergonha, ou se me visto da vida para dela desnudar-me, não sei se me embriago da noite ou se me acalmo dela, tudo é limite, tudo está por um fio, até mesmo a minha santidade. 

Ela (noite) surge incógnita, traiçoeira e sedutora, revela-se sobre seu véu negro uma vasta camada de libertinagem pronta para ser explorada, mas contenho-me, a noite sendo criança, dela usurparei e dela sugarei todo e qualquer inocente.
 
Ao avançar-me sobre as gretas escuras da desvairada “mundana”, busco-te, sufocando ainda um gemido guardado da noite anterior. E que venha o turbilhão ventoso, varrer minha face da vergonha e do despudor, que quebre os princípios anexos em algum artigo jamais lido, que desancore a impudica verdade imersa pelas águas ainda vivas do meu leito rio.

Que o céu, a Lua, o sol e todos os outros elementos sejam desvendados e entregues a mim, feito poção ou ópio, mas desregrado eternamente.
 
Determinante, no indefinível traço da minha personalidade, verossímil na trajetória e místico no dizer indizível.
 
A dúvida estará, desde o seu início, até o findar. Na leitura, apenas as palavras soaram significantes, mas a sua totalidade é que induz a eterna interrogativa.