Bacanal

Sua ode ao deus profano perpassa os ritos

a fim de morrer no ocultar do esquecimento;

pois lá, nessa terra indelével,

há somente um matiz de negro estilizado,

que por um vintém transcreve o passado.

Porém, o que quereria apagar

de sua estimável vida, um habitante da luz?

sem dúvida, aquilo que não se dá ao holofote;

aquilo que as caricaturas embotam;

aquilo que os arquétipos desalinham;

aquilo que os diálogos omitem;

aquilo que a dor cicatriza,

que o amor recrimina,

mas que somente a paixão explica.

A libido do espírito advém de Baco

para estrugir catarse da culpa;

para reprimir a mente enevoada;

para entregar tudo à incontingência;

para se importar com os limites;

para propor alegorias,

fundar anarquias, harmonias e alegrias.

Depois, estatelado nesse céu de vis encantos,

jaz moribundo, seu brado de liberdade.

Daquele ignóbil trunfo de conquistas,

o brilho impuro de sua alma, vaga estelar, na chacina do desejo.

Rodrigo Leme de Oliveira
Enviado por Rodrigo Leme de Oliveira em 22/06/2018
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