olhos de caleidoscópio
Parei de procurar meu lugar ao sol na cidade dos 40 graus quando o inverno deu as caras. Os dias nublados por aqui eram frequentes e quase sempre tinham serventia.
Sempre sonhei. Em todas as épocas do ano.
Por isso os dias nublados são mais úteis que os de calor. Prefiro o inverno às noites de verão porque as nuvens acabam obrigando a luz a partir de dentro.
O esplendor dos dias solares às vezes nos impede de colocar tal brilho em questão.
ele deslumbra, é o deus dos focos; e admirá-lo às vezes é sucumbir a cegueira cujo ensaio nunca terminei de ler.
O clarão é grande e embaça a vista.
Parei de procurar meu lugar ao sol quando me deparei com constelações na beira da estrada.
A cintilância me parecia real, embora já tenha lido que vemos o brilho de estrelas mortas; como amores que, mesmo partindo, se fazem presentes em sonhos lúcidos (ou não).
O rafa, um grande amigo da escola, costumava associar os amores às constelações que surgiam quando apertávamos os olhos na infância. Dizia que a dor era necessária para o encantamento, embora ambos fossem temporários.
Parei de colecionar falsas estrelas quando ganhei um caleidoscópio, no qual cada uma é reflexo da luz que parte de dentro, como céu em dia nublado. como os amores que projetamos.
Saber reconhecer a luz que vem de dentro, é pegar na xícara sem alças, é uma luva feita pelas próprias mãos que as vestirão (ainda que depois não tenham a finalidade a qual inicialmente estavam destinadas). Mas ela sempre têm uma função. A luz que vem de dentro é útil pra clarear os dias nublados. E quando se tem olhos de caleidoscópio, a noite vira criança.