A ABSURDA EGRÉGORA

A Palavra viva é sempre a voz do Mistério, o único que faz Poesia: pirilampos a ver a escuridão no fim do túnel. Então respondo a mim mesmo, numa confissão mais do que sincera: pobre do meu extenuado espírito! A inquietação e a falta de específicas respostas para os assuntos em pauta é o que me leva a tentar contato com aquilo que nem sei o que é, mas que me aguça a tentar levantar o véu das descobertas. Ainda bem que tenho parceiros de mesma índole: os sempre insatisfeitos, porém exultantes por estar próximos ao que nos consola – o itinerário de Passárgada, em que nos sentimos bem, à vontade para continuar a saga de conviver. E assim caminhamos de mãos dadas, sutilmente. Grato, deambulo, trôpego, em Tua palavra vigorosa, também surpreendente para a minha túnica sem costuras, inteiriça, e que a concebo resistente às setas da maledicência feito um colete à prova de balas. Religuemo-nos ao não visto, porém perceptível na palavra, no ritmo do conviver atento, todavia sem temores que nos conduzam ao esconderijo, como fôramos um caracol com a sua casa sobre o dorso, livres das absurdidades maldosas que consomem a nossa crença no espiritual, ainda que gasto por essas mesmas deletérias setas. Que o Absoluto, o vaga-lume-mor, perdoe a absurda inquietação para com o dia seguinte. Num gesto piedoso de mim próprio, ajoelho-me, de olhar fixo ao céu de nuvens e ventos.

– Do livro inédito A VERTENTE INSENSATA, 2017/20. (revisado)

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