Compras de mês
Coisa que detesto, é ir com Jorge ao supermercado. O homem mal entra e já está com pressa. Compra de mês foi feito pra mulher mesmo, o homem tem só que pagar é claro. Pois bem, lá estávamos nós, e esse nós, não é um nós na excelência do pronome. Na verdade eu arrastava Jorge pelos labirintos do mercado ouvindo só reclamações. Como toda mulher ia escolhendo o que queria, comparando preços, e colocando no carrinho que meu querido marido dirigia, como se estivesse fugindo da polícia. Como amanhã fazemos aniversário de casamento, tive a ideia de escolher um champanhe para brindarmos. Jorge nem sabia, mas tinha comprado uma camisola de oncinha super sexy, para a data, e a bebida completaria o estilo. Ele estava parado no final do corredor, quando me viu pegar a garrafa e seguir em sua direção. Todo nervosinho já foi dizendo que podia deixar a garrafa onde estava. Um vexame! Pessoas passando Jorge falando que era caro, que eu estava assistindo muita novela, que não sabia que eu agora estava bebendo, e já foi se encaminhando pra fila do caixa pois já estava de saco cheio de compras. Fiquei calada, que nessas horas, quanto menos agente fala menor é a vergonha e pior a raiva. No carro não disse uma palavra. Mas o ‘universo conspira’, adoro essa expressão! Quem falou foi o professor de Mariana na festa de formatura, nunca mais esqueci. Quando chegamos em casa, Tina já veio perguntando se tinha comprado os ingredientes do bolo, nem respondi, fui pro quarto e fiquei na janela ouvindo os dois na cozinha. Ele perguntou se alguém fazia aniversário, e Tina falou de nosso aniversário de casamento e, que eu tinha pedido que fizesse um bolo de chocolate que era o preferido dele. Não demorou ele entrou no quarto com aquela cara de cachorro que caiu da mudança pedindo desculpa. Sinceramente, fiquei com pena do meu marido; ele me abraçou e disse que ainda dava tempo de voltar no mercado. Olhei bem no fundo dos olhos dele e falei que não precisava não, que estava tudo certo, e saí . Sentei debaixo do pé de manga e pensei que dessa vez não teria camisola, nem bolo, também não teria namoro. Tô de mal para sempre.