Biografia do poeta não lido em três atos.
Rio de Janeiro, Agosto de 1934.
Ao entardecer.
ATO I Sobre a decadência da Velhice.
Sou aquele velho de mãos ásperas de grande fealdade que habita a cidade X. Vejo pelo horizonte a juventude que esvaeceu-se. Todos os meus amigos mortos contaram suas histórias ao lado de grandes certezas metafísicas e morreram na incerteza de um céu que, ao fim, nunca chegara.
Tenho duas velhas muletas, pois, caminho por esse duro chão da vida com dificuldades. Tenho três rugas horrendas que demostram o meu niilismo donde sempre plantei em meus versos. Fui, sim, um poeta não lido.
Meu ser nunca teve território ou inteireza- pois tudo era cortado em miúdos de dor - como aquela chuva fina que cai triste durante o inverno. Tenho no câncer um amigo e na morfina um deus de alívio.
ATO II Sobre a percepção da morte.
Agora, da janela do meu apartamento vejo dois meninos jogando uma partida de futebol. Colocaram dois chinelos como gol e estão descalços fazendo jogadas geniais.
- Acompanho o movimento de seus pés e da velha bola que desliza magicamente entre o asfalto. Sinto, que o ritmo da partida, coaduna-se com a minha pulsação cardíaca.
-Gol!! - Um menino sem camisa diz...-
- Foi pura sorte!- O outro retrucou
Sinto-me, enfim, feliz!
ATO III. Sobre a desesperança.
Volto-me para a cama e tenho saudade de estar dentro do ventre de minha mãe.
Ah, eis o momento! Recolho-me e encurvo meu espírito como uma
rosa que se entorta em um jarro de água vazio - a morfina não mais faz efeito- e sinto um profundo sentimento ao nada e morro assim: sem anjos, sem entendimento e sem Deus.
Rio de Janeiro, Agosto de 1934.
Ao entardecer.
ATO I Sobre a decadência da Velhice.
Sou aquele velho de mãos ásperas de grande fealdade que habita a cidade X. Vejo pelo horizonte a juventude que esvaeceu-se. Todos os meus amigos mortos contaram suas histórias ao lado de grandes certezas metafísicas e morreram na incerteza de um céu que, ao fim, nunca chegara.
Tenho duas velhas muletas, pois, caminho por esse duro chão da vida com dificuldades. Tenho três rugas horrendas que demostram o meu niilismo donde sempre plantei em meus versos. Fui, sim, um poeta não lido.
Meu ser nunca teve território ou inteireza- pois tudo era cortado em miúdos de dor - como aquela chuva fina que cai triste durante o inverno. Tenho no câncer um amigo e na morfina um deus de alívio.
ATO II Sobre a percepção da morte.
Agora, da janela do meu apartamento vejo dois meninos jogando uma partida de futebol. Colocaram dois chinelos como gol e estão descalços fazendo jogadas geniais.
- Acompanho o movimento de seus pés e da velha bola que desliza magicamente entre o asfalto. Sinto, que o ritmo da partida, coaduna-se com a minha pulsação cardíaca.
-Gol!! - Um menino sem camisa diz...-
- Foi pura sorte!- O outro retrucou
Sinto-me, enfim, feliz!
ATO III. Sobre a desesperança.
Volto-me para a cama e tenho saudade de estar dentro do ventre de minha mãe.
Ah, eis o momento! Recolho-me e encurvo meu espírito como uma
rosa que se entorta em um jarro de água vazio - a morfina não mais faz efeito- e sinto um profundo sentimento ao nada e morro assim: sem anjos, sem entendimento e sem Deus.