Sobre (não) ser bela

O peso da beleza na mulher é um dos mais constantes. Fonte primária de valor cuja perspectiva da ausência faz emergir conjunções adversativas seguidas de fontes secundárias de valor: "não é bonita, mas...".

Criamos mecanismos para suportar, rendidas forçosamente a adaptar-se, buscando nossa estima nas migalhas de aprovação dos espelhos que nos encaram, medindo-nos constantemente. Mesmo as que reconhecidamente a tem, cedo ou tarde a perderão. E o adiar desse confrontar-se é doloroso.

Se é certo que o homem também é escravo do que costumamos chamar de beleza (duplamente, ao meu ver, pois além de querer ser visto como belo, busca conquistá-lo), é também certo que é apenas na mulher ela precede qualquer outro valor, como a honra, a coragem, a força, a inteligência.

Como eu queria! Que ao menos metade dos elogios nada tivessem a ver com o corpo que encarnamos.

Como eu queria! Simplesmente ser reconhecida como um alguém, a despeito do que os olhos condicionados possam querer ver em primeiro lugar.

Como eu quero! A liberdade de desapegar-me desse peso e permitir-me alçar o voo leve dos corações maduros.

30/11/2017