Uma alma despedaçada

Ela tinha tantos medos diferentes.

Tantas desilusões semelhantes.

Tantos sonhos contraditórios.

Acho que ela nunca soube quem era, ou nunca quis saber.

Ela procurava abrigos secretos para se esquivar da própria vulnerabilidade.

Ela tentava atravessar as suas mágoas para, enfim, chegar ao outro lado, com um coração menos sobrecarregado.

Mas essa travessia, ela nunca conseguiu fazer.

Às vezes, ela pensava que poderia ter tanto amor dentro de si. Talvez, fosse esse o motivo de um coração tão pesado.

Mas esse pensamento nunca a convenceu.

O que mais convencia era pensar que só existia um vazio imenso e devastador.

Esperanças não sobreviveram aos cenários caóticos de devastação.

Foram ventos que sopraram em direções erradas.

Foram palavras atiradas para matar,

E mataram.

[...]

E cada pedaço dela foi morrendo aos pouquinhos.

As feridas abertas eram mais rasgadas a cada dia.

Foram muitas partes dilaceradas.

Mil almas mortas.

E, de repente, ela olhou para dentro de si mesma, e só restava uma alma despedaçada.

Ela sempre achou que encontraria um caminho que finalmente a levaria ao lugar que era seu.

Fechando os olhos, ela pensou com pesar se o que teria faltado a ela foi mais coragem.

E ela viu que jamais iria entender.

Que não entenderia as faltas, as falhas e as farpas que o destino permitiu que estraçalhassem o seu coração.

Ela nunca entenderia a vida, as contradições.

Ela nunca entenderia o tempo atropelando quem somos e quem gostaríamos de ser.

Ela nunca entenderia a crença em uma alma eterna, pois quando morresse, ela gostaria apenas de desaparecer.

A morte que parece, ao mesmo tempo, um alívio e um tormento.

Ela jamais entenderia como somos feitos da mesma matéria dos sonhos, mas também da mesma matéria da maldade.

Ela nunca entendeu como somos capazes de ser tão sublimes e tão cruéis, ao mesmo tempo.

[...]

Nina sabe que precisa enfrentar o mundo. Ela só gostaria de saber como se faz isso.

Em um instante, a água cristalina ganhou a cor de um vermelho vivo.

Ao longo da vida, a dor deixou muitos cortes.

Mas, esses, esses seriam os últimos.

Lá fora, um vento frio do outono.

Não há flores, apenas folhas secas espalhadas pelas ruas.

Em um banheiro, feito de azulejos azuis, dentro de uma banheira, cheia de sonhos e cheia de dor, Nina vai afundando sem esperanças.

Uma navalha, dois braços com cortes profundos.

Nenhum abraço de despedida.

Apenas um coração partido.

E uma alma despedaçada partindo.

Thaís Carmo
Enviado por Thaís Carmo em 10/06/2018
Reeditado em 11/02/2019
Código do texto: T6360819
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