Roda-viva
Não agrada-me efígies
Imagens, opulentas formas visuais.
A mim me devoram palavras
Palavras e movimento
Vaivém infinito do verbo
Criação sui generis do balanço que reverbera no além,
concebe etérea onda nos confins do corpo imaterial
do âmago líquido de plúmbeas nebulosas no pairar sempiterno da metafísica.
A mim me encanta o parafrasear e edificar em monocromo meandro,
Existência hedionda e disforme ao espectar,
Mas que deglutida em sua profunda abstração
Nectário torna o perene libar d’energia substancial e desvanece pois a moral intrínseca da estética nos atos e autos inscritos em fronteiras orgânicas.
Palavra que inexiste se não sorvida e assimilada e envolta no ser que a tange
a mim toma-me d'eterna enamorada
liquefeita de vida e de sentir todos os sentires ignotos e nominados.
A valsa verbal conduz-me pelos salões de todas as instâncias fugidias do Perene
Num incessante arabesco-bailar que fecunda o subsistir de seu próprio Ser
E toma-me à mão e os braços e enlaça-me num abraço de todo o corpo, a palavra
E, na solidão, ausência: do se estar plenamente em si
cingida pelo verbo em dança majestosa e leve, existo.
Como a locução, deleita-me deveras o amargor do café
Este que é a mim genitor augusto do verbo e conduz-me a submersão cabal no bailar
tomo um tragar e desenleio cada laivo do sabor
e derramo tua ausência de cor, o perpétuo estar-se em si
Pelos meus lábios que derramam pro cerne d’alma palavras e nelas estancio-me ad aeternum.
O silêncio que sucede-se a cada hausto principia um perpétuo monólogo no sem-fim dos confins da Essência
Que não haure hóstia de ar pois que está a transmutar-se em imperecível dança,
sem carecer hiato pro aniquilar da exaustão:
porquanto não há.