Não passou
Ela passou por mim sem perceber que era eu. Foi e voltou. Aí sim me reconheceu sentado ao canto de cabeça abaixada, lendo um livro qualquer para preencher algum vazio científico.
Ela foi andando na minha direção lentamente. Levantei a cabeça e a vi se aproximando. Ela sorriu e eu sorri, duas vezes. Palpitava algo em meu peito como se eu tivesse acabado de me exercitar. Percebi então que não estava recuperado do mal súbito que era gostar dela.
Trocamos pouco mais que meia dúzia de momentos das últimas semanas. Falamos dos fatos, das correrias... “Causos” de todo dia como meu avô diria. Kriptonita? Para outro alguém pode ser que ela seja, mas para mim não. Uma fraqueza diminui sua força. Ela, só por ser ela, me tirava o chão. E o fazia aos poucos como que se deleitasse, como que quisesse que eu sentisse o meu apoio se esvair devagar.
Ela me pediu uma ajuda e eu, bom imbecil prestativo amador iludido, não neguei. Prontamente auxiliei... Amador...
Ao final de tudo, acho que é sempre um texto, um jogo. Ela só precisa se reafirmar sobre mim. Só precisa garantir que eu ainda sou um pássaro tonto caído ao chão que ela alimenta. O pior é que eu, de verdade não sei o que acontece, pareço querer dar a ela essa certeza. Deve ser por causa dessa esperança inútil de que podemos estar de novo, porque no momento parece que só eu posso.