Carta ao Desconhecido
A muito deixei de viver entre os homens; se encontram demasiadamente preocupados com suas trivialidades e canalhices. Mas não me canso de olhar o céu — meu refúgio secreto.
Penso se em algum lugar distante daqui alguém me olha de volta; penso se também escreve a mesma carta, com os mesmos pensamentos... Mesmas angustias. Penso se este já se cansou dos seus iguais, das suas crenças fantasiosas e de seus costumes primitivos.
Se puder me ouvir, desconhecido, peço-lhe: não se manifeste de nenhum modo; que nossos silêncios se convirjam como um requiem e nossas perplexidades corram livres como suspiros ofegantes e submersos no meio das constelações.
Deixe que gritem do lado de lá. Deixe que se percam dentro da própria pequenez. Que se sufoquem nessa corrida sem partida nem chegada. Essa noite estrelada é nosso íntimo segredo — nossa conexão espiritual.
Preciso voltar.