Para Caio Fernando Abreu, um guri de Santiago

Hoje eu não queria ter saudade, hoje eu não queria sofrer. Não sei se pela generosidade do dia, tapado de sol, ou se pelas cores do outono, fui arremetida para perto de Caio. Estava magro demais e tinha nos olhos um sorriso triste, olhar que só pensadores têm. O genial e destemido contista, era um guri de Santiago, gaúcho dos quatro costados, era um domador de palavras. Muitas vezes, quando eu passava, ele estava no jardim do sobrado, um casarão branco com um jardim meio frio e de poucas flores. Nunca fui capaz de lhe dar uma flor ou um abraço, nunca disse que ele era um herói neste país injusto, logo ele que lutou por tantas causas e enfrentou as mais árduas batalhas.

Fico entre a tristeza e uma ponta de remorso. Hoje desejei que o tempo voltasse, queria andar pelas ruas do Menino Deus, apertar aquela mão magra e fecunda, sentir a luz que Caio irradiava, tocar a face delicada do grande escritor.

É quase noite, parece que só restou o Guaíba nesta cidade, meus olhos estão úmidos e o sol pôs fim ao dia. Enquanto é noite, sei que vou sofrer, tenho saudade, quero olhar o céu até cansar, "fazer um desejo", sei que Caio vai estar lá, brilhando no rastro de alguma estrela. Para ti eu daria uma flor, querido Caio Fernando Abreu.

Beijo a todos!

Maria letra e cor
Enviado por Maria letra e cor em 27/05/2018
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