MARGINAL
O poema morre na calçada em um dia de inverno...
Ser poema era ser apenas um número...
Para quê serve o poema mesmo?
Sempre foi coisa inútil...
O poema fazia pensar...
Jogado alí naquele chão imundo parecia um cão...
Cão não! Cães possuíam donos caridosos e ração, e coleiras caras...
Tudo o que precisava fazer, era lamber seus donos...
Quanto mais dócil maior o mimo...
Mas o poema era rebelde...
Gritava liberdades que incomodava...
Refletia as caras da humanidade...
Poema estúpido! Cale-se!
Morreu abandonado na calçada em um dia de frio.
Mas mesmo morto e enterrado grita o desgraçado...
Fica lá esbravejando no vazio...
E milhares de poemas tombam desolados...
Quem amaria um poema?
Quem alisaria os seus pelos?
Quem daria a ele, um teto?
Quem o domaria?
Romaria de indiferentes passam rentes...
O poema se ressente e mesmo sendo um marginal,
Pragueja, mas com certeza também sabe cantar canções...