Um olhar adentrando a noite
A tarde vai se extinguindo sobre os píncaros e a noite desce suavemente tal qual cortina negra, deslizando frente às janelas da alma. Os postes logo começam a parir luzes sobre as avenidas.
Tons amarelos e tristes pendidos e jogados ao chão.
As cidades sobrevivem ao ininterrupto barulho da vida em ação. Cadência mecânica do exercício laboral diário, maquinário e sentimental.
Ao redor a paisagem verde, abraça as complexas residências em distância e fica em silêncio.
Em namoração, estrelas e pirilampos trocam olhares, luzes e brilhos.
A quietude da mata parece embalar o sono das árvores,
enquanto a brisa as cobre de carícias e canções desprendidas dos ares.
O olhar pacífico percorre a distância, varando os campos da noite,
indo morar por instantes na cidade. A noite tem seus mistérios e cobre tudo de incertezas. As casas se fecham em proteção.
As pessoas se apressam em direções contrárias.
Inexauríveis são os encontros do ser, com a prudência e a ousadia,
com a pressa e a calmaria, porque a noite faz cambalear as pessoas num misto de emoção e razão.
O concreto das ruas e edifícios, dos becos e dos corações endurecidos; a insanidade das mentes; a impunidade dos crimes;
as veracidades da saudade desenham sem giz nos muros do sentir.
De longe o olhar ameno contempla a vastidão de terras vestida de escuro e as luzes nuas, pingadas mais adiante. Eis que vem surgindo o luar. A vida é mesmo assim: campos e cidades,
cobertos de noites, descobertos de manhã.
Fecha-se a porta e fotografado fica o anoitecer.