AULA

Eu quero brinca;

eu quero brinca;

eu quero brinca na terra do baobá.

Brinca de sereia que se enraíza no mar;

brinca, brincar, brinca e brinca de;

brincar de ficar no canto, de cantar de soar;

brinca de pular, de sentir de enraizar.

O meu corpo perde toda agua dele;

se desvai como fossa séptica;

tira o podre de dentro que sufoca-me por dentro.

A carne filtra;

filtra tudo, rasca a pele e mina água;

suor do meu esforço, garantia da dadiva divina;

dispor-me-ei do mau e trarei para fora a vida.

A água, essa que não mata a sede;

água essa que mata a fome;

água fonte de fome do saber;

água fome de comer, fome de trazer;

trazer a alma para fora;

alma do corpo;

alma fora do corpo.

Não fora do espaço;

não fora;

não fora de si;

trazer a alma para o espaço.

As linhas que seguia traços rentes me cercavam;

as linhas impediam-me;

as linhas da forma ou da forma.

O calcanhar de Aquiles;

o calcanhar segue e deita;

o calcanhar sofre e sente a flecha;

o calcanhar rasga sente;

o calcanhar dar-se a vida para sucumbir.

Não esta aqui a planta;

planta de vida;

planta que, planta que seca sem o tão amargo suor.

Hoje é merda;

hoje é merda de;

hoje é merda de estume;

merda que transfigura.

Deleitei-me de estar aqui;

aqui mais uma;

mais uma vez dou vida em favor da vida.

As forças se restituem o novo me contempla;

a forças que sucumbem o cansaço de lutar;

as forças que não querem perseverar no que ainda desconheço.

Viverei eu mais um dia para que possa escrever;

escrever sobre a folha em branco;

branca não sobre linhas;

linhas que me conduzem;

linhas que conduziram;

linhas que não me conduzem hoje.

Me levei a plantar-se;

a plantar-se no espaço;

no espaço de onde sempre fiz parte;

no espaço que, no entanto nunca notei.

Apreciei minha presença;

presença que para ti transparente fui;

presença para tu e não só para tu;

sou não mais, transparente.

Aqui sou transcendente;

aqui do que vivo a vida sem escolhas pensadas;

aqui escolhas mas, por escolhas tomadas e agredidas.

A linha do tempo se desvai e perco-me no profundo branco;

no branco do branco da cor do branco;

branco que já é transparente;

branco que consome as palavras tatuadas;

branco sobre a pele me tornado;

branco não, que não queria, mas me tornei,

tornei-me tão preto que;

preto da mais pura branca luz.

Jaciel Vidal
Enviado por Jaciel Vidal em 10/05/2018
Reeditado em 19/05/2018
Código do texto: T6332479
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