"ARROTO TOSCO”*

Há beleza no encontro
dessas duas palavras. 
Nasceram com a necessidade
urgente desse encontro.

O “ARROTO” 
como algo que tem que acontecer, 
um fluxo fisiológico aliviador.

O “TOSCO” como algo bruto, 
original, sendo o que tem de ser, 
sem artificialidades.

A vida deveria ser 
como um “ARROTO TOSCO”, 
na expressão da sua essencialidade, 
original e inevitável – bruta. 
Seguindo seu fluxo inexorável.

Mas vivemos na superficialidade,
no adaptável – da subordinação.

E a vida perde, então, a sua potência
e ficamos presos às formalidades, 
perdendo a nossa originalidade.



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(*Lendo Raduan Nassar, encontrei essa expressão: " Arroto Tosco" que me fez parar e refletir. Não sei se foi a imagem ou a sonoridade. Mas encontrei poesia. LAVOURA ARCAICA, cap. XV, pág. 93 – Obra completa. Companhia das Letras, 2016)