Marginalizado

O moleque era bom

Porém o transformaram em merda

Nasceu e renasceu dentre os becos e vielas

Sobreviveu comendo verme

Toda semana ascendia uma vela

Quase sempre a matina perversa

Foi crescendo

Acompanhado da miséria

Desde cedo a mãe se prostituía pros comédia

Que fazia o guri de chacota

E roubava a dignidade dela

E uns e outro preocupado com a unha da Bela

Despercebido passava a fera

Por falar em princesa

Lembrei dos castelos do morro

Derrubados com a força do militar

Que era o senso comum do povo

Ele e ela que também era povo

Visão do alto

Não do escalão

Alto pensamento que será em vão

Onde as vozes não reverberarão

De onde se vigia o morro

De onde se controla os corpos

Eu já vou te explicar

Só não quero me precipitar

E mais uma voz silenciar

Lá no morro falta ar

E até o ar natural ousam nos roubar

Com morte matada

Que as nossas vidas

Covardemente vem a ceifar

Falta escola com essa estrutura aí

Será que tem medo da vontade despertar e na escola o moleque querer morar?

Voltando pro morro

Falta moradia

E o povo vive pedindo socorro

Noite e dia

Castelos construídos aos trancos e barrancos

Falta educação

Falta saúde

E também o pão

O sofrimento que me afundou

Nessa lama de adubo pra barão

Não foi acidente da natureza, seu doutor!

Foi culpa do sistema

Culpa do emblema

Do lema

Da estereótipização

Já dizia a canção

Preto pobre correndo

É ladrão!

Roane Muniz
Enviado por Roane Muniz em 04/05/2018
Código do texto: T6326911
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