Marginalizado
O moleque era bom
Porém o transformaram em merda
Nasceu e renasceu dentre os becos e vielas
Sobreviveu comendo verme
Toda semana ascendia uma vela
Quase sempre a matina perversa
Foi crescendo
Acompanhado da miséria
Desde cedo a mãe se prostituía pros comédia
Que fazia o guri de chacota
E roubava a dignidade dela
E uns e outro preocupado com a unha da Bela
Despercebido passava a fera
Por falar em princesa
Lembrei dos castelos do morro
Derrubados com a força do militar
Que era o senso comum do povo
Ele e ela que também era povo
Visão do alto
Não do escalão
Alto pensamento que será em vão
Onde as vozes não reverberarão
De onde se vigia o morro
De onde se controla os corpos
Eu já vou te explicar
Só não quero me precipitar
E mais uma voz silenciar
Lá no morro falta ar
E até o ar natural ousam nos roubar
Com morte matada
Que as nossas vidas
Covardemente vem a ceifar
Falta escola com essa estrutura aí
Será que tem medo da vontade despertar e na escola o moleque querer morar?
Voltando pro morro
Falta moradia
E o povo vive pedindo socorro
Noite e dia
Castelos construídos aos trancos e barrancos
Falta educação
Falta saúde
E também o pão
O sofrimento que me afundou
Nessa lama de adubo pra barão
Não foi acidente da natureza, seu doutor!
Foi culpa do sistema
Culpa do emblema
Do lema
Da estereótipização
Já dizia a canção
Preto pobre correndo
É ladrão!