De longe eu vejo
Meu Deus que menino magrinho eu vi hoje no jornal da TV! O bichinho parecia um montinho de ossos, os olhinhos esbugalhados de fome e fraqueza. Cecília disse que são crianças da Síria, que estão passando um período muito difícil, com essas coisas de ONU e Direitos Humanos, essas coisas de política que agente não entende. Aquela imagem do menino não me sai da cabeça, e vez em quando fico pensando na comida que nossos meninos desperdiçam. Hoje, quando Tina chegou falei pra ela que na Síria as crianças tão morrendo de fome, e que agente precisa começar a pensar em poupar, fazer só a comida que se vai comer, pois estamos contribuindo para que o sofrimento daquelas crianças aumentem. Tina danou de chorar, dizendo que não tem culpa de nada, que nem sabe onde fica a Síria e se soubesse levava comida pra eles. Eu também levava Tina, disse pra acalmar a pobre, mas quem faz isso é a ONU. Imagina se alguém vai saber que eu e Tina estamos querendo dar comida pras crianças de outro país, ainda mais aqui em Santa Cruz do Pilar, que ninguém, nem essa tal de ONU, sabe onde fica. Quando Jorge chegou, eu sentei ao lado dele e falei que nós somos muito abençoados por Deus, pois sempre tem nosso pão nosso de cada dia na mesa, e que não entendia como o Senhor podia deixar tanta criança sem pão, logo Ele que multiplicou os pães no Monte! Jorge me olhou com aquele olhar que já sei. De noite quero entrar no meu quarto e falar muito com Deus, dizer mesmo, como filha fala com o pai, sem medo, que sei que carrego um pedaço do mundo em minha alma por Ele, e é essa alma mesmo que está triste, que não entende porque tanto tormento para essas crianças lá no fim do mundo... Quem me dera poder multiplicar o pão como Tu!
Stelamaris