LEILÃO

O que vi nesta tarde, deixou de ser apenas o que há muito tempo é feito em hasta pública. Não foi uma simples praça ou leilão, foi uma ousadia que pela natureza hibrida do objeto não sei ao certo qual seria o melhor local para a alienação. A escolha pela praça foi proposital para que ali, todos aqueles que passarem pudessem vislumbrar tamanha ousadia e quem sabe interessar-se ou não em dar um lance.

O meirinho abriu solenemente a sessão e então passou a caracterizar o objeto com muita discrição, até porque era um objeto que nunca houvera um dia alienar. – Eis então a nossa frente um homem de boa idade e saudável que guarda dentro de si a peça desta tarde, que passo agora descrever com muita propriedade: Consta o objeto de uma válvula dividida em quatro cavidades, duas na parte superior e duas na parte inferior, todos envolvidos por uma proteção que contém uma pequena quantidade de líquido. Sua estrutura é constituída por três camadas: o epicárdio, o miocárdio e o endocárdio, temos aqui senhores, um coração humano.

Aturdidos, ninguém ofertou lance algum. O que fazer com um coração humano, no corpo vivo de um homem tão saudável? Mas o meirinho continuou:

- É um coração puro, sem rancor, sem maldade e cheio de amor para ofertar. Suas intenções são as mais genuínas e sinceras. Se vê bondade contida em todos os átrios. Correm em suas artérias fervorosos motivos de alegria que pulsa para o corpo radiante felicidade. Bombeia para fora de si satisfação de uma vida longa e promissora. Transborda saúde, goteja amizade, conserva tolerâcia, produz resiliência e se firma em muita paciência. E o mais importante, sabe perdoar. Alguém já tem algum lance?

Surpreendidos, todos levantaram a mão.

Paulo Roberto Fernandes
Enviado por Paulo Roberto Fernandes em 02/05/2018
Reeditado em 03/05/2018
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