Quem sou Eu?
Perguntar é fácil.
Responder, impossível.
Uma metamorfose inconstante.
Um punhado de átomos.
Hormônios em descontrução.
Um ser biológico, escatológico, cadente e decaindo.
Sou um astro, um universo, um paralelepípedo orgânico.
Sou um número, muitos números, um cadastro, uma ficha e a peça de um quadro.
Alguém me chama de pai.
Pai?
Palavra estranha que me abala as entranhas.
Um ente divide a cama.
Uma querida, uma alma, outra vida.
Ainda me lembro do primeiro encontro, do beijo e das juras (não cumpridas) de amor.
Fiquei na saudade.
Mergulho no meu eu e pergunto: quem sou?
Vem uma voz, adúltera, e responde: eco-eco-eco...
Procuro conversar com um Deus e me converter a ele.
Sento na beirada da cama, antes fosse um abismo.
Vejo na profundidade uma estrela, um poema, um verso.
Caminho por aquele céu inverso.
Estou em sonho, estou em riso, estou em pranto.
Fico na espera, recostado a um poste e vem um ônibus.
Aceno e ele para.
São todos os passageiros reflexos do meu eu,
Nas minhas várias fases,
Desde a tenra idade.
Sento-me ao lado do meu Eu de 8 anos.
Quer doce?
Ele me conta dos seus sonhos e planos.
Eu choro em silêncio pelo que sei que não realizará.
No fundo do veículo um velho Eu de 80 anos me acena.
Aproximo-me.
Ele me afaga em seus braços como um pai faria.
Entrego-me àquele embalo e o ônibus segue em frente,
Atravessando chuvas, rios, colinas e paragens hostis.
O veículo não se detém por nada.
E ali estou, a viajar pelo universo, em busca de uma resposta...