quando só olhares são insuficientes
quando só olhares são insuficientes, a união dos corpos torna-se inevitável. esse encontro é feito catraca; feito engrenagem de relógio. é carne pressionando carne. dente que puxa. peito que afaga. língua que afoga.
quando só olhares são insuficientes, a união das mentes faz os corpos se moverem. No mesmo pulso. na mesma música, ou na pausa dela. num álbum inteiro do mesmo cantor. na respiração combinada, periódica, que marca o ritmo de uma quase-dança. no chão.
o afeto ensina a ter calma na pressa. a pensar no fim, e aproveitar as curvas do percurso: a olhar pra os dois lados antes de atravessar as vidas.
a colisão dos impulsos unifica as ambições. por alguns segundos, o desejo é ser um; e estender esse encontro para além da matéria é ser, num corpo só, a presença do outro. é sentir as falhas, as sobras, as faltas, as glórias...
quando só os olhares são insuficientes, os corpos se afetam.
30 de abril de 2018