A herança da sociedade
Medo. Ando pelas ruas atento. O tempo todo sempre a mercê do acaso, mas não um acaso agradável e sim um que me trás aflição. Dilema. Subo essa rua escura ou durmo aqui onde estou? Minha casa é logo no final dela, mas o histórico de violência e assaltos aonde estou é altíssimo. Pensando bem, onde não é? - Vou subir! Digo em voz alta e assim o faço. 1, 2, 3 minutos subindo a rua. 4, 5, 6 minutos na escuridão. Escuto um som, logo meu coração gela, minhas mãos se fecham, minhas pupilas se dilatam em atenção total (tensão). Passa por mim direto um carro preto e então me tranquilizo. Não aguento mais essa situação constante. 7, 8, 9, e 10 minutos de medo, mas ao menos cheguei em casa. Abro a geladeira pego um copo d'água gelada para me acalmar um pouco e decido sentar no sofá. Ligando a TV, logo vejo notícias de violência em toda parte, é assalto, brigas sem motivos, mortes por nada... A banalização da vida personificada. - Chega, preciso de um banho e descansar. Não aguento mais tanta violência em tudo que vivo! Pensei comigo mesmo. De banho tomado, me preparo para dormir. Quem sabe ali, tenho um momento de paz onde não terei medo de tudo. Me deito, o cobertor se repousa sobre meu corpo e o som do ventilado embala a escuridão que me envolve, então fecho os olhos. Medo, aflição, dor, traumas, impotência, vulnerabilidade... Ando pelas ruas atento o tempo todo sempre a mercê do acaso, mas não um acaso agradável e sim um que me trás aflição. Dilema. Subo essa rua escura ou durmo aqui onde estou? - Não! Socorro! Acordo em um susto gritando e suado até os pés.