Prestação de contas
Entre acidentadas e estreitas ruas do meu ser, por décadas, um espirito andarilho, vacilante, perambulou...
Teimosamente, sem rumo, vagueou...
Cambaleante, como um ébrio na madrugada, entoava; ensoava canções de sentimentos desafinados.
Iludia-se!
Esperava aplausos da sua platéia imaginária.
Muito ensaiou estrofes sem nexos, rabiscou incontáveis versos, buscando rimas passadas.
Tropeçou na imaturidade, contornou percalços...
Sofreu profundos golpes. Quase caiu.
Seguiu...
Suportou o frio d'alma.
Tateou, forasteiramente, corpos estranhos. Não gostou do que viu...
Nem sentiu!
Tentou, a todo custo, até de forma fortuita, vencer o breu da solidão.
Antes tarde...
Reencontrou-se numa reedição do dia.
Alojou-se nos recomeços dos velhos e conhecidos abrigos.
Acolhimento tão familiar...
Saciou a sede de ternura. Matou a fome de harmonia.
Com o mesmo gosto; o mesmo cheiro. Nada incomum; tudo tão singelo.
Sentiu-se em casa outra vez.
Reconheceu-se!
Por sorte ou destino, encontrou motivos para abrir os olhos e o coração.
Iluminou-se!
Resplandescente é a aurora da vida.
O pôr do sol já não era mais sinônimo do fim.
Para um ativo e irrequieto espírito, o ocaso principia, esperançosamente, uma nova manhã.
Manhã de sólidos e coloridos degraus; de uma decidida escalada, rumo ao topo do aperfeiçoamento.
Jamais saberá o dia da contagem. Do escrutínio dos vividos atos.
Consola-se!
A Misericórdia Divina, tem permitido um bom referencial.
Ele sabe que, quando convocado para a apuração final, terá uma forte representatividade denominada Amor.