Prestação de contas

Entre acidentadas e estreitas ruas do meu ser, por décadas, um espirito andarilho, vacilante, perambulou...

Teimosamente, sem rumo, vagueou...

Cambaleante, como um ébrio na madrugada, entoava; ensoava canções de sentimentos desafinados.

Iludia-se!

Esperava aplausos da sua platéia imaginária.

Muito ensaiou estrofes sem nexos, rabiscou incontáveis versos, buscando rimas passadas.

Tropeçou na imaturidade, contornou percalços...

Sofreu profundos golpes. Quase caiu.

Seguiu...

Suportou o frio d'alma.

Tateou, forasteiramente, corpos estranhos. Não gostou do que viu...

Nem sentiu!

Tentou, a todo custo, até de forma fortuita, vencer o breu da solidão.

Antes tarde...

Reencontrou-se numa reedição do dia.

Alojou-se nos recomeços dos velhos e conhecidos abrigos.

Acolhimento tão familiar...

Saciou a sede de ternura. Matou a fome de harmonia.

Com o mesmo gosto; o mesmo cheiro. Nada incomum; tudo tão singelo.

Sentiu-se em casa outra vez.

Reconheceu-se!

Por sorte ou destino, encontrou motivos para abrir os olhos e o coração.

Iluminou-se!

Resplandescente é a aurora da vida.

O pôr do sol já não era mais sinônimo do fim.

Para um ativo e irrequieto espírito, o ocaso principia, esperançosamente, uma nova manhã.

Manhã de sólidos e coloridos degraus; de uma decidida escalada, rumo ao topo do aperfeiçoamento.

Jamais saberá o dia da contagem. Do escrutínio dos vividos atos.

Consola-se!

A Misericórdia Divina, tem permitido um bom referencial.

Ele sabe que, quando convocado para a apuração final, terá uma forte representatividade denominada Amor.

Luiz Rodas
Enviado por Luiz Rodas em 24/04/2018
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