SERENIDADE

Eram a vida e a morte ao mesmo lado, tudo sendo ausência e vivência qual dois lados de moedas atiradas, dados que rolavam pelas pistas de um assoalho eterno; ali foi quando houve a transmutação, a alquimia: pedras fundamentais que rolaram, rochas cortadas sem mão das montanhas a aniquilar as vaidades tolas dos homens.

Foi quando houve o mergulho espiritual; em labirintos de deserto à luz da lua, a valia de um retiro sob as altitudes nevadas imortalizadas em quadro, transições de mandalas em espiral, crisálidas a abrir-se em borboletas de fogo, voando ao nosso redor, prótons e elétrons correndo contra a luz do sol e da lua a dançar alegremente.

Foi quando se superou a mágoa e a tristeza, foi quando se conteve a megalomania, buscou-se mantos doces e suaves de serenidade, musa tão esquecida, gênio preso no fundo das garrafas onde busca-se a embriaguez da vida moderna, aceita um trago? Não; antes um apagar das luzes dos semáforos e dos arranha-céus, chega de outdoors e carro zero.

Retiro, isolamento. Ócio criativo, gênese de sonhos e meditação. Há um espelho apontado dentro de toda consciência, o que vemos? Feras, leões, hienas, a carne rasgada depois das tempestades da vida? Feliz quem não se incomoda com a pedra mágica, prata e ouro, lá apenas meu reflexo, será nosso caso?

É eclipse, nada mais de óculos coloridos, não importa a foice e o martelo, caiu o império da águia de pena cinzenta e toda essa tecnologia, aleluia, hare krishna! Agora apenas onda e partícula, beijo de caos onipresente, self e sombra sem ordem; apenas você e eu, liberdade para ser apenas nós.