nada mais maciço

doído

absurdo

que a dor da perda.

quando eu perdi minha avó,

perdi também um caco do universo,

um caco de mim,

da minha genética,

da minha história,

e das histórias que ela não vai poder me contar por não estar aqui.

eu perdi com ela meu papel de neta,

eu perdi um vocabulário todo, o vocabulário dela:

os ''fias'', os jargões italianos, as superstições,

as histórias dos outros que já morreram

a infância da minha mãe

a infância dela

a minha bisavó que não conheci

morreram com ela.

eu perdi todos os nossos encontros futuros.

eu perdi a bisavó dos meus filhos.

todos os dias são um dia que eu perdi de ter passado ao lado dela.