O rio
Já desço rápido
Entre as pedras,
Era um fio d'água
Mas agora ligeiro
Encho as entranhas,
Molho os gravetos
E as folhas mortas
Com mil insetos.
Mas é tão longe
O meu final
Mas que depressa
Nos trancos
Tô chegando,
decidido
Afinal ainda consigo
Levar comigo
Lembranças
pedaços de tocos,
Saibros e troncos
Galhos quebrados
Que me pesam tanto
Braços e riachos
Que na frente encontro.
Sou agora
um mar de água
Turbulento e bravio,
Tenho forças
Sou sedento
Pra navegar com navios.
Mas primeiro,
No caminho,
Vou encontrando
Pedregulhos;
Estou mais lento
E mais pesado,
Mais largo e turvo
E sombrio
Se encontro
Obstáculos,
Imprudente
Mais forte fico.
Meus amigos
Tão distantes
Ficam murchos
Estou sozinho,
Talvez pacas
E largartos
As margens dos
Ribeirinhos
Me acompanham
Desolados
Com cantos de passarinhos.
Faço curvas
Contorno sítios
Vejo homens no caminho,
Abro grotas
E sacrifícios,
Minhas margens
Vêem ao longe
Estou chegando
No destino.
Peço licença
Educado
Entre os esgotos
Insisto
Posso passar?
Quero chegar
Respirar
O paraiso
Sonhar que sou
Rei e vivo,
Mas quase morro
afogado
Num mar de lama
E lixo.
Já estou velho
E cansado
Finalmente vou alcançar
Despejo as mágoas
Na foz
Espero me misturar.
Um encontro salgado
E sinto
minha alma ressuscitar
Nessa imensa mancha
Verde
Tudo que trouxe comigo
Vim aqui lhe entregar
Como um presente
Amigo.
Desculpe o jeito
É um defeito
Quando nasci
Me disseram,
Pra crescer e viajar
No fim da sua jornada
Dê sua vida ao mar.