A CONCHA VAZIA
Um olhar, um abraço, um sorriso, um ombro, uma palavra, um sussurro, uma risada, uma gargalhada, um choro, um passar de mão na cabeça, uma bronca, um elogio, uma lembrança, um puxão de orelha. Tantas são as atitudes de um amigo que é difícil citar em poucas linhas e em tão pouco tempo.
Um amigo é algo inevitável em nossa vida, sempre se tem um, dois ou mais, não muitos. Acredito que bem poucos. Os amigos são como pérolas encontradas em ostras, elas existem, mas não é em qualquer concha. Muitos até tentam ser amigos, mas são apenas conchas vazias. São bonitas, resistentes, envolventes, mas reticentes, pois não tem a pérola. Não tem o componente principal que enriquece e fortalece o sortudo.
Ser amigo é liberar de dentro da alma e do coração a pérola que guardamos dentro de nós. Excetuando os desgraçados, os impuros, os malditos, os sem caráter, toda pessoa tem uma pérola guardada dentro de si. O que ocorre é que as vezes não há encontramos e o que nos parece vazio, para outros não é. A resposta muitas vezes está na maneira de como procuramos o tesouro. Às vezes saímos abrindo todas as conchas em busca da pérola, quando na maioria dos casos encontramos a preciosidade sem ao menos procurar. É um fenômeno que simplesmente acontece, e, quando essa raridade acontece o enriquecimento é incalculável.
Acontece também de encontrarmos pérolas induzidas pela produção. Não prevalece, o valor não é o mesmo daquela que naturalmente é formada. Se torna efêmera e a isso damos o nome de coleguismo. Bijuterias que apesar de terna beleza, se desfazem em pouco tempo e o que sobra é apenas uma concha vazia.
A amizade é construída de amor, carinho, companheirismo, confiança, perdão. É uma fortaleza que nada deixa abalar. Não há vento ou tempestade que a derrube e uma vez que isso aconteça, não era pérola, era apenas uma bijuteria induzida em uma concha vazia.
Um amigo se zanga com o outro. Um amigo esquece bobagens, pede perdão. Um amigo sente a dor do outro, perdoa. Um amigo chora hoje para rir amanhã, ele sofre, ele ama, ele não desiste, pois uma pérola verdadeira nunca perde seu brilho.