Como uma irmã mais velha
Quando dou de minhocar coisas,
pego um livro da Adelia Prado,
e ela me dá uns puxões de orelha.
Vou lendo, digo escutando ela falar da mãe dela.
Escuto e vou lembrando também da minha.
Parece até que estamos falando de uma mãe só.
A poesia é espelho, lemos e tudo que vemos e ouvimos fala de nós.
Só que a mãe dela tinha pai, digo marido.
A minha não tinha.
Não tinha, mas tinha, na espiritual lembrança.
Em noites de lua, passava horas contando histórias do meu pai.
Era sua maneira de nos dar um pai.
Nos deu.
“Noite alta, céu risonho, a quietude é quase um sonho.”
O pai de vocês tinha linda voz.
Lavrador, Seresteiro,
Mãos calejadas de enxada e violão.
Quatro anos, de namoro
Quatro anos de noivado
Quatro anos de casado.
Partiu.
Vamos entrar que amanhã tenho que madrugar.
Durmam com Deus,
Nossa senhora cobre vocês com
o manto dela.
E em paz adormecíamos.
À mãe da Adélia
Minha mãe,
Todas as mães.