Amor Nokia

Amo-te todos os dias. Mas como cada dia é um dia, nunca te amo do mesmo jeito. Às vezes quero amar-te desastrado, amar-te da forma mais idiota possível. Ser pateta e imbecil, silenciar tua existência enquanto vivo a pensar em ti.

Ainda ontem não te quis amar. Estava tão morto que amor era a última coisa da qual queria ouvir falar, mas entretanto não parava de desenhar-te nas minhas insónias misteriosas, de vasculhar as mensagens antigas e rever as fotos que nunca chegamos a fazer juntos. Não parava de me sentir contrito pelos convites rejeitados, pelas noites de conversas esticadas ao telemóvel que desperdicei como adesivo já usado. Não parava de questionar uma forma diferente de os factos terem acontecido. Mas também, não parava de ser feliz como sou agora, por ter-te apenas como amiga.

Muita coisa mudou, e é bem provável que com os nossos envelhecimentos precoces não consigamos refazer tudo aquilo que a nossa falta de vontade impossibilitou. Realizar o jamais sonhado, trabalhar no não projectado, agir naturalmente como se o tempo fosse nossa propriedade, pois para os que amam ele é eterno.

Não importa quantas vezes eu deixe passar a chance de te dizer o que sinto algures no lado canhoto do peito. Não importa quantas mulheres passem por mim despercebidas ou eu me acelere em proclamar finais felizes neste fórum de contos de faltas, estarei sempre aqui ou acolá, mesmo sem dar nenhum sinal de vida, aparecerei toda vez que me invocares, mesmo que apenas no entardecer. Tentarei ao máximo ser teu gémeo, não necessariamente uma alma, mas um vento que soprará quando te quiseres soltar.

Esse amor anda escondido faz tempo, e pode ser que nunca venhas a saber dele. Eu não quero dizer que te amo. Não quero que sintas por mim o mesmo que sinto por ti, um cinto que segura as calças largas do desejar outros pedaços quando evaporas, pois não quero que sofras. Deixa-me amar-te e pronto. No isolamento, por detrás das teclas, dos envios e visualizações de mensagens, às vezes não respondidas...

Hoje amei-te de forma quente, com o sol a queimar as partes descobertas do meu corpo exposto ao dia. Amei-te com as sombras que me salvaram da fogueira desse astro. Quem sabe amanhã eu te ame como se ama. Quem sabe eu aprenda a amar-te de verdade. Mas enquanto isso, amo-te do meu modo, sem querer saber se me escolhes a mim ou um outro rapaz.

Widralino
Enviado por Widralino em 29/03/2018
Código do texto: T6293702
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