Ama-me
Ama-me com todas as suas posturas
Com todos seus meios-termos, com
Todos os seus pesos e desejos.
Ama-me assim em pé, atrás da porta
Silenciosamente, sem vestes, sem
Vergonhas, ama-me pelas costas
Ama-me dentro e fora do propósito
Fora de hora, ama-me depressa
Que tenho tempo á beça. Ama-me
Como quem inaugura luas, de um
Jeito a arrancar suspiros vastos
Ama-me no escuro, sob a luz da
Rua, sobre a cama, depois do muro
Ama-me ruidosamente, ama-se
Como fosse sua sombra mais dura
Ama-me no futuro e no presente
Que o ontem já não nos pertence
Ama-me com toda sua saudade
Com toda sua cruel suavidade
Ama-me por todos os meus cantos
No amargo do mel, ama-me
Com sua cara mais linda, com
Seu beijo mais grave, ama-me
Necessito do seu ar, do seu
Cheiro, do seu não, ama-me
Como quem ama a si mesmo
Milton Oliveira
21mar/2018