Prosa Elegíaca na morte de Stephen Hawking
No séc. XI, um filósofo persa chamado Avicena, querendo demonstrar o primado da mente sobre o corpo, elaborou um argumento que ficou conhecido como "O Homem Voador". Nessa sua argumentação hipotética, imaginou um homem que vivesse suspenso no ar, sem qualquer contato com seu próprio corpo, não podendo percebê-lo nem pelo tato nem pela visão e já tendo nascido nessa condição. Esse homem, diz Avicena, mesmo ignorando completamente sua estrutura corpórea (que, nessas condições, não teria para ele serventia), tem, no entanto, plena consciência de existir, pois para tanto bastam-lhe a mente e seu mais precioso fruto, o pensamento.
Mutatis mutandis, talvez Stephen Hawking tenha sido o grande exemplo prático de uma existência plena que, ignorando as deficiências e limitações do corpo, alcançou o esplendor de sua potência existencial com base exclusivamente na força da mente e do pensamento. Hawking foi, nesse sentido, a corroboração do devaneio filosófico do grande sábio da Pérsia, o "Homem Voador" antevisto e sonhado por Avicena.