Inspirações
Uma estação de trem, o trem, as suas janelas,
os caminhos,
flores silvestres, as flores azuis, e cada árvore
que rapidamente
passa, o retrovisor, a saudade, as folhas de bananeiras,
as libélulas, os pássaros em seus voos sem rumo,
a andorinha ligeira,
o solo seco, os cactos, as araras com tons vermelhos,
a flor do maracujá, a minha falta de prumo.
A casa dos meus pais, o rosto da minha mãe,
as suas rugas, os seus cabelos brancos,
as lindas lembranças
da minha infância e da minha maturidade
com o meu pai.
Sim, quando íamos passar as férias na serra,
estas coisas são as minhas maiores inspirações,
retratos da minha própria vida, esta sou eu,
sou a lembrança
do casarão ao pé da serra, o caldo de cana,
feito pelo meu avô,
as suas histórias, ressalta a certeza do atual desamor.
Inspiração sinto, é a saudade escrevendo anseios
por coisas que não voltam mais. As pipas,
as bolhas de sabão,
os barquinhos de papel, as fogueiras,
Luís Gonzaga, a sanfona e o seu chapéu,
tudo é inspiração,
um sorriso, sem me importar se é triste
ou amarelo, os segredos e o pavor, a ala romântica
de uma livraria, predominando o silêncio,
para a minha alma, a alegria, o ciúme,
este me aflige, e o meu tolo amor.
Rostos, palidez, cachoeiras, depois o meu quarto escuro,
madrugada, uma erva dominando o muro,
uma rede pra eu descansar,
no quintal iluminado pela lua. Ouvir a algazarra ao longe,
os gritos das crianças brincando na rua,
é sempre um colírio,
as flores azuis. Degraus, os degraus do tempo,
a minha solidão e o silêncio do quarto em que eu habito,
o abajour, as páginas em branco, o vento nas cortinas
e no peito explodindo tantos nulos manuscritos.
E no fundo da minha alma, o brilho daquele olhar,
sim aquele olhar quando me segue todas as manhãs,
persegue e dá vontade de aceitar
este incentivo de continuar a viver,
São as inspirações da vida me convidando à sobreviver,
No fundo eu sou a minha própria inspiração.
_ Liduina do Nascimento