O retrato da solidão
Reeditado
Não negava que apreciava quem tinha o dom de escrever,
em seus olhos havia fome, queria uma frase só,
que desse um sentido,
só não sabia a quê, não era sede pelas letras,
era sede pela vida,
buscando qualquer coisa que lhe faltava.
Havia uma ferida que não sarava, nas palavras desconexas,
que nada de amor diziam, poemas complexos, a sua alma,
só entristecia,
não havia má vontade em sua incompreensão.
Tal qual um quadro torto, pendurado,
palavras aguadas,
sem doce sem sal, sem emoção, lhe causava mal.
Os próprios sonhos pressentem, quando morrem
Lentamente,
até não terem nada para dizer, letras que
atravessam portas,
alucinadas percorrem as ruas, sem almas
que recriam a vida
e que gritam, sem eco, por não saberem se expressar,
conscientes de que em solo infértil não adianta plantar.
No fundo essas almas escondem algo
que jamais confessariam.
Um coração seco feito àqueles versos,
feito a terra sem semente
para vingar. Sufoca palavras, reflete no espelho
o retrato da solidão.
Um ser que busca, sem sem sequer se encontrar.
Não ama e nem quer o amor de quem sabe amar.
Liduina do Nascimento