Lembranças de minha mãe (Fato real)

Hoje senti uma saudade imensa de minha mãe... Ela era uma guerreira.

Fazia de tudo para o bem dos filhos, lembrei-me de seu carinho, seus conselhos, de vê-la fazendo seus artesanatos que ela amava. Tapetes, bonecas, toalhas e colchas de crochê. Ela passou pra nós o seu gosto pelas artes e trabalhos manuais, ou é dom não sei, eu também adoro.

Foi minha mãe quem me incentivou a gostar de ler e escrever, ela sempre trabalhou no campo e não teve oportunidade de estudar, aprendeu a escrever quando já adulta, mas achava lindo quem lia e escrevia bem.

Queria muito que eu fosse professora, acabei seguindo outros rumos, parti para a área administrativa, cheguei até, por uns tempos a trabalhar com educação infantil, mas vi que embora amasse as crianças, esse não era meu dom.

Minha mãe tinha sempre uma palavra sábia para nos passar na hora de nossas indecisões. Que saudade da infância na Fazenda... As pescarias. E olha que ela era uma excelente pescadora, ficava verde de brava quando ia pescar com ela, parece que os peixes iam todos para o seu anzol, e eu ficava a dar banho nas minhocas.

Aí eu desistia e pulava na água com meus irmãos pra nadar, fazíamos tantas algazarras, que minha mãe parava com a pescaria e voltávamos para casa. Mas sempre com uma fieira de peixes para o jantar.

Lembro-me de uma casa que moramos e o pomar de mangueiras, meu Deus... A saudade chega até doer, eu era tão peralta, parecia um moleque.

Na época das frutas, levantava cedinho e ia para o quintal que era imenso, subia no galho mais alto e lá ficava a comer as mangas, escolhia as que estavam bem maduras e doces.

Escutava minha mãe me chamando pra tomar café. Ficava bem quietinha, e ela saia me procurar, passava por baixo da mangueira e não me via, ouvia ela perguntar aos meus irmãos se sabiam onde eu estava, e eles diziam que não. Eles sabiam, mas não me entregavam, havia uma cumplicidade entre nós, mas era do bem, ninguém fazia nada de errado. Minha mãe sempre nos passou valores, ensinou-nos a amar a Deus sobre todas as coisas, respeitar os mais velhos, ter cuidado com as crianças, tratar bem os animais e sempre agradecer a quem nos fazia algum bem. Éramos aqueles filhos que sempre pediam a bênção aos pais, para dormir pra sair de casa, ou outras ocasiões que achávamos que iríamos precisar de alguma proteção.

Mais tarde, descia da árvore e chegava bem devagarinho com umas mangas bem graúdas e suculentas, entregava a ela. Bom, nessa atura ela já tinha esquecido do meu sumiço. Sorria com carinho e me mandava tomar aquele café gostoso com o pãozinho assado no forno de barro, que delícia. Minha boca até enche de água de tanta vontade que tenho de comer o seu pão caseiro.

Desde de que ela se foi, mantenho-me calada, gosto de pensar que ela está viva, morando em um lugar junto à natureza entre as flores, árvores frutíferas e de ornamentos, cuidando de sua horta, das galinhas e patos, enfim, dos animais que ela tanto amava. Bem mais tarde, já nos seus oitenta e poucos anos, tinha um cachorrinho marrom, o Chamoá, que lhe fazia companhia, como ele ficava feliz quando recebia o seu carinho. Ela gostava muito dele e ele dela.

Às vezes choro em silêncio pela sua falta. Mas sei que ela esta bem.

Hoje, vi um jardim de flores de sapateira. Não sei se é esse mesmo o nome da flor, mas era assim que ela as chamava, essas flores florescem coladas ao caule do seu pé, na frente de nossa casa tinha um jardim delas em todas as cores.

Na primavera ficavam cheias de abelhas, borboletas e beija-flores.

Mais tarde, já moça mudei para cidade a morar com uma tia, onde estudava e trabalhava. Voltava para casa nos finais de semana para vê-la e a toda família e sempre havia um presentinho guardado para me dar, Às vezes um doce, um enfeite de cabelo que ela mesmo fazia, ou qualquer outro mimo que me dava para agradar, percebia até um pouquinho de ciúmes de minhas irmãs, rsrs... O que elas não entendiam é que eu fui a única que saí de casa cedo e aqueles gestos era um meio de ela me dizer que sentia a minha falta e mostrar que estava feliz com minha volta para casa.

Minhas irmãs sempre ficaram ao lado dela o tempo todo e assim tinham o seu carinho todos os dias, e eu os tinha só quando os visitava.

(Assim como a volta do filho pródigo), que o pai o recebera com um longo abraço.

Essas são as boas lembranças que guardo e guardarei no meu coração para sempre.

E são lindas. Eu acho.

Iracema Cerione (Mayra Luz)
Enviado por Iracema Cerione (Mayra Luz) em 12/03/2018
Reeditado em 03/05/2018
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