Entre o céu e o chão - Ilusões - XXXVI
Gosto de coisas com gosto. Já houve um tempo em que apreciava plásticos e palcos. Agora quero cheiro, sabor e leveza.
Quero chinelos confortáveis junto com uma velha xícara de café.
Panelas velhas que exalem lembranças e emoções.
Nas manhãs serenas basta-me o cheiro da grama com o orvalho
misturado com aromas de bolinhos de trigo e água.
Desejo lá pelas nove horas o sabor do sol nos pés dos meninos
que brincam descalços, e um pouquinho mais tarde voar no passado vendo o feijão num fogão despretensioso.
Numa mesa sem luxo almejo um banquete de alegrias em cadeiras sossegadas.
Pelas catorze uma sesta com aroma de merecimento e quietude.
Depois de um descanso de hortelã, caminhar por caminhos
tranquilos rodeados por quero-queros, sujar o pé na terra
seca e manchar as mãos com flores do mato.
Lá pelas tantas, sentar num canto quente com os meus
e apreciar o cheiro, o sabor e a leveza de cada um deles.