BEBO
Quando bebo, bebo pelo sabor. Bebo uma dose de amargor, uma dose de tristeza, outra pelo próprio furor de me ver bebendo, sim, eu, num laspso de consciência, me retiro do corpo abatido e, como um expectador, me vejo a beber. A cada motivo, grito ''-mais uma dose!''. Bebo e deixo descer amargamente, fortemente. Bebo pra tossir, pra fazer cara feia, pra espantar o bicho papão de dentro do peito e os que querem entrar. Bebo até não lembrar que bebo, e mesmo assim, bebo. Gole, gole, gut... não sinto mais o sabor. Bebo pelo dissabor, pela alternância no paladar, bebo pra enfrentar cada gole do que bebo, e bêbado me torno mais eu.
R.K