A cabra e o Sábio
Era claro o dia quando Zaô despertou da sonolencia espiritual.
Durante anos, se refugiara na caverna estreita, se alimentando de cogumelos, larvas, formigas, líquens, e tudo aquilo que pudesse mantê-lo vivo, e longe do olhar humano.
Queria extrair do isolamento e da meditação, uma resposta para as complexidades da existencia.
A cabra amiga perdendo-se das companheiras, veio lhe trazer alegria, irmã tão desejada.
Tinha as têtas repletas de leite, e o úbere saliente como o das mulheres provocadoras de amor.
Como a adivinhar-lhe a fome, ofereceu-lhe a mama quente, macia e repleta de vida.
Pareciam os seios formosos das mulheres amadas de outrora.
Aconteceu-lhe então, uma revolução incontrolável dos sentidos: Os perfumes trouxeram as cores, das cores surgiram as musicas, e com as musicas, os salões e os cavalheiros com suas mulheres de olhos de seda e bocas de amoras silvestres.
E o descontrole tomou o seu corpo, incorporou uma chama lúcida, e houve uma explosão de iluminamento.
E em estado de iluminação, compreendeu Zaô que da natureza dos porcos é a lama, do cavalo a grama, do homem a luxúria.
Se colocarem uma porquinha ao nascer, em um palácio, banhá-la todos os dias, perfumá-la, colocar-lhe pérolas no percoço, diamantes nas orelhas e cuidá-la dentro de um salão, pisando em bordados persas, ela será feliz.
Se um dia porém, ela tomar conhecimento do lixo, do lôdo, ela abandonará tudo e escolherá a sujeira. Alí verdadeiramente ela será feliz: Com a sua natureza.
O cavalo abandonaria tudo pela liberdade e o capim das pradarias.
O abutre pela carne em decomposição!
Só o homem teve audácia e liberdade de afrontar a propria essência, e criar paraísos superficiais para mascarar a simplicidade da vida;
E se transformar na mais infeliz e contraditória obra da natureza.
Apanhou o que sobrou das suas lembranças! Aquele refúgio ja não lhe pertencia.
Havia diante de sí, a imensa luz do mundo!