A arte de se sabotar

Eu vi erros do passado se tornarem presente

Eu vi as drogas deixarem meus irmãos inconscientes

Eu vi a mãe largar o filho no lixo, e não merece nem ser chamada de gente

Eu vi muita ideia sendo abordada, mas poucas entrando na mente

Eu vi muita fé se perdendo, e os da igreja só se preocupando com quem é crente

Me diz onde vamos parar, se o futuro a ninguém pertence

Me diz onde vamos voltar a andar, se por essas ruas morre tanto inocente

Me diz o futuro da minha quebrada

Me diz porque gente pobre é sempre a errada

Me diz porquê as drogas metem-nos numa enrascada.

Eu vejo vários caírem, de baixo desse céu azul e pleno

Eu vejo vários choros a se disfarçarem de sorrisos

Por baixo do sereno.

Eu vejo muitos aplaudirem no final, mas nada no meio

Eu vejo muitos amigos meus morrendo em todo tiroteio.

Eu vejo o amor mudar e machucar

Eu vejo julgamento de gente que não faz nada para o outro melhorar

Eu vejo a ferida sangrar...

Eu vejo que há muita liberdade

Mas poucos sabendo como usar.

Me diz o porquê de você ser como é

Me diz quem te ajudou a se tornar um zé mané

Me diz porque uns pobres querem ser ricos

Me diz porque tem uns que falam que negros não são bonitos

Me diz por que as escravas foram estupradas

Mas não me fale que elas eram muito abusadas.

Me diz o por que o cinema não lança filme do tupac

Talvez a visão de gangster deles veio do araque.

Me diz por que dina di foi esquecida

Me diz por que na mesa falta tanta comida

Me diz por que o filho da vizinha chora

Me diz por que falam que tudo tem a sua hora

Me diz por que minha mãe se mata para trabalhar e ainda falta dinheiro

Me diz por que vocês acham que todos do sertão são carpinteiro.

Me diz o porquê uns acordam seis da matina

Me diz o porquê de a madame não fazer a faxina

Me diz o porquê dessas rimas.

Me diz por que eu escrevo,

Se nada disso me dá dinheiro.

Não tem resposta, tudo bem

Vocês não entendem

Quem não faz por amor, não sabe direito.