Virgindade

Se guardou como se fosse um tesouro,
Acreditou que o tinha valia ouro,
E foi se num instante qualquer,
Sem luzes multicoloridas em sua mente,
Apenas uma dor levemente.

Um dia como outro qualquer
Fizeram dela uma mulher,
Se olhou no espelho e se viu igual,
Nada novo ou sobrenatural.

Tantas guerras ...
Que tantas mulheres já matou,
Por um pedaço de hímen sem nenhum valor.
É um rito de passagem e nada mais!

Criado na mulher para sua proteção,
A cultura machista o transformou em prisão,
O corpo pertencia ao pai, que desonra rejeita,
Virgindade tinha até preço, a ser pago em cartório,
com casamento arranjado para ele ser tirado!


Se sorte ou maldição, cabia ao pai sua proteção.
Quando um estupro ocorria...
Os olhos tristes do pai revelavam sua agonia.
A filha ali violada, provava a proteção fracassada.

Mas, sua dor não era pela mulher aviltada,
Nem por sua integridade desrespeitada.
Era principalmente pelo hímen esfacelado,
Pois o valor da mulher a ele estava ligado!

O estupro é desumano...
Fere os costumes e a vida humana.
É algo mundano e infame!
Mas, a dignidade feminina ficava em segundo plano.


No espelho, seu reflexo novamente olhou,
Era o mesmo corpo do dia anterior,
Mas, o amor conheceu,
Uma mulher dali nasceu.

Só não sabia descrever o vazio em sua alma,
Não era dor, nem lamento ou alegria,
Era apenas a  própria existência que si emergia...


 
                                

 


BAÚ DA FELICIDADE 


Dizem que a idéia do baú da felicidade surgiu num passado que remonta à época dos coronéis do café e que neste tempo por imposição de algumas religiões, moças tinham que se casarem virgens enquanto os rapazes... Ah os rapazes: "estes ao completarem a idade de treze anos tinham que enfrentar a pressão do pai para perder logo as condições de donzelo. Para isto, os mais abastados mantinham uma escrava só para o específico ato de descabaçamento dos varões nascidos na família".

         Se um rapaz com quinze anos ainda não tivesse a fama de grande garanhão, ficava mal falado e começava a ser apontado pelos vizinhos male dissentes com ditos jocosos: - lá vai ele, o maricon, tu vistes ontem ele estava a brincar de rodas com as meninas enquanto os outros moços divertiam-se a valer com a Mariquinha Trovoada? – Sim, pois vi. Deu-me cá uma vontade de chamar as falas o pai: "o coronel Joaquim Macambúzios". Só não o fiz: por estar correndo um boca a boca, desde quando o coronel ficou viúvo. Dizem que ele anda muito estranho sempre acompanhado daquele escravo o reprodutor de sua fazenda. – Sim, pois: até as mulheres estão a cochichar sobre o fato de ele ainda tão jovem, não ter se casado de novo. – Pode acreditar, aí tem coisa.

         Assim era a vida dos rapazes, uma cobrança dos pais medrosos e tentando a todo o custo evitar que seus filhos fossem taxados de “flozor”.

Enquanto isto, as moçoilas... Ao completarem dez anos, o pai pegava sua virgindade e trancava num baú pequeno, no ano seguinte colocava aquele bauzinho em um baú maior, junto trancando as chaves, e nos anos que se seguiam ia repetindo a operação, até, até... Bem até o dia do casamento da feliz donzela, tendo o noivo certeza da sua virgindade.

         Neste dia então, o pai num ato solene, diante de inúmeras pessoas todas a servirem de testemunhas. Não faltando os vizinhos, o padre o delegado, a mãe do noivo, as tias, que assistiam a abertura dos baús um a um até o ultimo. Este: era entregue ao já marido da feliz donzela casadoira, com a chave, ele fazia as honras da abertura. Guardando o bauzinho como preciosa recordação, que durante sua vida exibiria aos amigos e filhos, a toalha branca manchada com o sangue da virgem. Uma prova da sua macheza, e de que sua amada, só pertencera a ele.

         Sabem aquele arco onde as moçoilas colocavam um pano esticado e ficavam bordando e de vez em quando espetavam o dedo? Furavam o dedo, saia sangue, saía sangue e tinham ideias, até ideias de na noite de núpcias, espetarem uma agulha no colchão... Mas, isto é outra história, é aquela famosa história que Cherazar contava em capítulos todas as noites, aquela dos “mil e um chifrudinhos”, pois é: esta é outra história.

            Assim foi que ficou conhecido o tal baú e tendo daí nascido á ideia do famoso “BAÚ DA FELICIDADE” aproveitado pelo famoso dono de uma praça e repassado depois para um outro que ri a toa.

 Mentira, então como é que foi? Uê... Saiu do pinto foi para o prato eu conto uma, você conta quatro. 

 Trovador das Alterosas