As Flores Negras dos Campos Verdes Doces!
As Flores Negras dos Campos Verdes Doces!
*De Carlos Henrique Mascarenhas Pires
Li o suficiente para conhecer as Flores Negras,
E quando elas ocupavam, verde adentro,
Os campos amplos de caules adocicados,
Flores mulatas sedentas, e famintas de liberdade,
Que faziam riquezas, as mesmas fortunas,
Que saciavam os despautérios dos senhores aloprados...
Flores que viam zumbis de dia, e fantasmas à noite,
Numa masmorra aberta, sem muralhas nem grades,
Mas que as detinham de um único sonho:
O da liberdade humana, nossa maior riqueza...
Abastança que existe sem brabeza;
E se não há liberdade, não há qualquer detrito da beleza...
Flores negras lavadas pelo soro da tristeza,
Plantadas na masmorra de um canavial,
Perverso no plural...!
Quão alheio o é, tirarem da cana,
O mel do melaço que preteria o fel,
Da servidão cruel, das flores punidas pela cor;
Das preteridas pelo amor,
Das humilhadas pela fé,
Flores domadas pelo açoite,
De dia e de noite;
Que adubavam com sangue,
Os tais circos dos caules edulcorados...
Penosa é a batalha que ainda existe,
De provar que essas flores negras são gente,
Intenso é tentar deslembrar o labéu da história,
Que ainda persiste, em afirmar,
Que as flores negras não são,
Nem distantes parentes,
Quanto mais irmã,
Do plano que um dia inventou a escravidão,
E proferiram que as flores negras,
Se não são pessoas, nem flores o são...!
Refletindo o passado, e até no presente;
Me faz lembrar que Flores Negras, foram,
E ainda são, desenhos perfeitos de Deus,
Muito mais fortes do que qualquer outra flor...
Por tudo que passaram e passam;
Por tudo que viveram e vivem;
Por toda desgraça que foram constrangidas a agradecer;
Por todo o sangue que foram acuadas a ceder;
Por todas as angústias que são compelidas a esquecer;
Flores que antes de uma Lei, era tudo menos flores;
Quanto mais, gente!
Flor que jaz indigente...
Hoje eu não suplico nada,
Nem de útil, nem diferente...
Espero que as Flores Negras desse importante vergel,
Me faça animado, talvez um menestrel...
Que a ansiedade que derivou tanto sofrimento,
E que ainda tanto o emana,
Atrele os dois lados do abismo,
E que todas as flores, involuntariamente da cor,
Se avistem, no mínimo parecidas...
Transforme-nos, flores brancas, amarelas,
De pele vermelha ou parda;
E as ditas flores, que são negras, enfim;
Produzam o mesmo perfume que a Fraternidade emana,
Altere-se enfim, todas as flores;
Na mesma raça humana!