Nudez (VI) Nascer

Nudez (VI)

Nascer

Nascer. Sem bordas para se agarrar, sem cordão umbilical, uma nova forma de ser. Ser humanamente só, humanamente acariciado pela vida que é. Pela dor que é. Nascer é criar. Criar-se. Nascer é aprender, morrendo um outro estado, um outro estágio.

Um grito... berro!

Água, energia, lágrima, ar abrindo o peito, e frio, e fome.

Se tiver sorte quem nasce logo ganha um nome, um peito, um colo afável, e logo vai se vestindo de mundo, de horizontes, e cegueira também. E será a sorte este codinome: ser cuidado, ser amado.

Se tiver sorte, um dia descobre a poesia, outra que não aquela de estar vivo, ter nascido, mas aquela de conseguir ver com olhos novos, livres, a nudez do calar-se, ouvindo alguma coisa parindo dentro de si, sendo. E será a sorte este codinome: Liberdade.

Nudez ao nascer é abismar-se no mundo. Difícil nascer todos os dias. Mas há quem desmonte, por momentos, tudo isso, e espante-se.

By Tânia Barros

continua no (VII)