CORAÇÃO ANGUSTIADO.
O meu coração está angustiado, inquieto, sem lugar, batendo desconsolado. Meu coração as vezes é assim, às vezes eu fico assim, e hoje, exatamente hoje, estou em um desses dias de intranquilidade. Não tem nada com o dia em si, que por sinal se faz encantador. Sol forte, nuvens acinzentadas, não muitas, espalhadas entre nuvens brancas, algumas muito altas, outras parecem querer trocar o chão. O sol forte é sinal de chuva mais tarde, mas por enquanto, o dia está perfeito.
Neste momento em que escrevo essas palavras, encontro-me em um parque. Grandes árvores com copas volumosas, parecem alcançar o céu, uma trilha lindíssima, lagos, pássaros, jacaré nadando no lago, tem um pouco de cada coisa. Eu gosto de parques, caminhar na natureza, ver os animais, tão livres, tão tranquilos. Como eu disse anteriormente, meu coração está triste, e o motivo eu não sei, não compreendo, tão pouco alcanço. Na falha tentativa de me sentir melhor, fico em completo silêncio, tentativa errada; na segunda tentativa, converso com uma e outra pessoa, dessa vez ajudou, não como eu gostaria, mas ajudou o coração desse poeta desajeitado, se acalmar dentro do peito.
Agora vejam que, o beija-flor, aquele mesmo de outrora, também estava no parque, atrás das árvores, sentado nos bancos, brincando nas trilhas, voando entre os arbustos. O beija-flor, está em todos os lugares para onde olho, na verdade, para ser mais preciso, essa ave está dentro da minha cabeça doente, não sei se posso dizer assim.
Houve um tempo em que esse beija-flor era pequenino, não sabia voar ainda, quase não o notamos, então o tempo passou, suas asas cresceram, e ele aprendeu a voar, ganhou as árvores mais altas, e depois o céu, até as nuvens mais baixas. O beija-flor desde aqueles dias, nunca mais foi o mesmo. Certa feita, em plena primavera, na praça das flores coloridas, ele apareceu, voando deliciosamente, penas reluzentes, olhos ofuscantes, canto suave, e lá estava a magnânima ave, diante de mim, encarando-me. Confesso que depois desse dia eu nunca mais fui o mesmo, meu coração enlouqueceu, como todos podem notar, mas enfim… Quem neste mundo é normal? Somos todos frutos da nossas próprias loucuras, escravos de nossos próprios desejos ocultos. Mas hoje não está sendo um dia bom, definitivamente não está.
O tempo é o senhor de si mesmo
Ele determina o seu próprio curso
Não se submete a ninguém
Não dá satisfação também
O tempo não tem face
Nem olhos
Nem coração
O tempo nos escraviza a ansiedade
O tempo nos condiciona a espera desesperada
Uma espera desesperançada
O tempo subjuga as minhas ações
Me limita
Sou intimidado por este carrasco sem alma
O tempo então surgiu na espreita
Na noite escura
Na rua estreita
Com ele trouxe tão negros e belos olhos
Com ele trouxe tão graciosa face de anjo ledo
E eu, poeta errante
Com meu coração aos pedaços chorando por amor
O tempo não teve misericórdia
Impôs a minha alma o suplício de amar
Desmedidamente amar sem ser correspondido
Sentimento de dor
Amar é ser livre?
Amar é voar nas asas do vento?
As vezes tenho dúvidas quanto ao amar
Quanto ao que realmente é o amor
Este sentimento que é tão antigo
Que remonta aos poetas mais longínquos
Que remonta o próprio tempo
Que sentimento é esse afinal?
Que me domina por inteiro
Que me faz prisioneiro
Nas grades de meu próprio peito
Que sentimento é esse afinal?
Que tem nos teus olhos grandioso poder
Que tem em tua voz completo domínio
Eu... Tão fraco e só
Esperando em um canto qualquer
Esperando qualquer coisa afinal
Eu... Poeta das noites em claro
Com os meus versos de lágrimas
Espalhados todos ao chão
Mas sou apenas uma ideia
Vago pensamento que se vai de repente
Sou como a sombra passageira
Sou como a brisa no campo
Tão suave e pequena
Que quase não é percebida
O que na verdade eu sou
É este poeta com juras de amor eterno
Mas o que é o amor?
Eu não sei amar
Verdade é, que nenhum poeta
Jamais aprendeu a amar
Falamos do amor
respiramos o amor
Poetizam o amor
Mas não aprendemos a amar.